domingo, 2 de outubro de 2011

Prefacio do meu livro " Em busca Do Espaço Verde"


Conheci Eliseu nos corredores da faculdade de Letras da UFRJ. Sem muitas introduções, ele foi se apresentando e dizendo que pretendia publicar o seu livro de poesias. A obra já estava pronta. Ele gostaria apenas que eu lesse e desse a opinião sobre os poemas, por meio de um texto. Já lá vai quase um ano desde aquela primeira conversa. No primeiro momento, cheguei a pensar em fugir daquela responsabilidade. Mas a determinação de Eliseu não dava espaço para esse tipo de resposta. Diante da minha alegação de que demoraria a ler, ele respondeu que esperaria e abriu um sorriso cheio de confiança. Só pude, de fato, fazer uma leitura cuidadosa de sua obra alguns meses depois. Contudo, logo que terminei o livro, compreendi a determinação e confiança de Eliseu. Mostrei a obra para minha mãe, Marília Barrozo do Amaral Salgado, estudiosa de literatura como eu. Queria saber se ela também sentiria a força daqueles poemas. Ela confirmou minha impressão e disse que a busca do espaço Verde, título que Eliseu demorou a escolher, depois de muitas dúvidas e conversas com os amigos, dentre os quais agora eu me incluo com satisfação, seria, entre outras possibilidades, a procura e o encontro final da África refeita de tantas guerras e injustiças. Como é de esperar, o título, polissemicamente, também aponta para a busca pessoal de Eliseu: Sua infância e juventude, em parte recuperadas, em poemas como “Lembranças”, “ Nós dois” ou “ Ainda me lembro”... Consideramos verdadeiro esse ponto de vista, pois, em algumas poesias, há um mergulho na língua crioula materna, como que para reconquistar a pureza ancestral, símbolo de uma felicidade preservada, apesar de todos os sofrimentos. A língua materna revela-se, assim, uma ponte com suas raízes, capaz de projetá-lo num futuro mais claro e justo. O interessante é que, ainda que desconheçamos a língua crioula, tornamo-nos, ao longo da leitura da obra, familiarizados com ela, graças ao inesperado da sua musicalidade poética. Outra grande vertente que perpassa por toda a obra e contagia o leitor é seu desejo apaixonado pela liberdade e pela justiça, induzindo-nos a experimentar os mesmo sentimentos do poeta. Hoje estou feliz por ter acompanhado o nascimento de sua primeira obra, observando o seu entusiasmo e entrevisto uma alma feita de perseverança e fé na palavra.


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