Conheci Eliseu nos corredores
da faculdade de Letras da UFRJ. Sem muitas introduções, ele foi se apresentando
e dizendo que pretendia publicar o seu livro de poesias. A obra já estava
pronta. Ele gostaria apenas que eu lesse e desse a opinião sobre os poemas, por
meio de um texto. Já lá vai quase um ano desde aquela primeira conversa. No
primeiro momento, cheguei a pensar em fugir daquela responsabilidade. Mas a
determinação de Eliseu não dava espaço para esse tipo de resposta. Diante da
minha alegação de que demoraria a ler, ele respondeu que esperaria e abriu um
sorriso cheio de confiança. Só pude, de fato, fazer uma leitura cuidadosa de
sua obra alguns meses depois. Contudo, logo que terminei o livro, compreendi a
determinação e confiança de Eliseu. Mostrei a obra para minha mãe, Marília
Barrozo do Amaral Salgado, estudiosa de literatura como eu. Queria saber se ela
também sentiria a força daqueles poemas. Ela confirmou minha impressão e disse
que a busca do espaço Verde, título que Eliseu demorou a escolher, depois de
muitas dúvidas e conversas com os amigos, dentre os quais agora eu me incluo
com satisfação, seria, entre outras possibilidades, a procura e o encontro
final da África refeita de tantas guerras e injustiças. Como é de esperar, o
título, polissemicamente, também aponta para a busca pessoal de Eliseu: Sua infância
e juventude, em parte recuperadas, em poemas como “Lembranças”, “ Nós dois” ou
“ Ainda me lembro”... Consideramos verdadeiro esse ponto de vista, pois, em
algumas poesias, há um mergulho na língua crioula materna, como que para
reconquistar a pureza ancestral, símbolo de uma felicidade preservada, apesar
de todos os sofrimentos. A língua materna revela-se, assim, uma ponte com suas
raízes, capaz de projetá-lo num futuro mais claro e justo. O interessante é
que, ainda que desconheçamos a língua crioula, tornamo-nos, ao longo da leitura
da obra, familiarizados com ela, graças ao inesperado da sua musicalidade
poética. Outra grande vertente que perpassa por toda a obra e contagia o leitor
é seu desejo apaixonado pela liberdade e pela justiça, induzindo-nos a
experimentar os mesmo sentimentos do poeta. Hoje estou feliz por ter
acompanhado o nascimento de sua primeira obra, observando o seu entusiasmo e
entrevisto uma alma feita de perseverança e fé na palavra.
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